quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A História de Bandike - O Teste Positivo

A médica me garantiu que por ter tomado anticoncepcional tanto tempo ele continuaria atuando no meu organismo durante alguns meses. Mesmo assim eu tinha voltado a tomar. Esqueci alguns dias... Mas era improvável... Na virada do ano de 2005 para 2006 eu coloquei um absorvente com medo de sujar meu vestido. Fizemos uma baita festa na casa do meu então namorado (havíamos voltado formalmente). Eu estava muito feliz. Antes de irmos para a festa nos maquiamos na minha casa. Minhas amigas, minhas companheiras da banda. Carol e Babi. Todos os meus amigos estavam lá. E muita gente que eu não conhecia também. Teve até um cara que foi parar só de cueca no meio da calçada (e eu não sei como eu tenho uma foto disso). Eu bebi horrores. Todos ficamos bêbados. 
Depois do dia 5 eu já começava a me preocupar, eu era super regrada. Resolvi fazer um exame de sangue por conta do nervosismo. Fui lá, paguei e fiz. O resultado ficaria pronto no dia seguinte, pela manhã. Voltei pra casa e continuei no orkut, msn... Cada cigarro que eu colocava na boca sentia que estava fazendo algo muito errado e muito ruim. Naquela noite dormimos na sala, Bandike e eu. Sonhei o tempo todo com a minha mãe e com o resultado negativo do teste. A impressão que eu tinha era de que ela estava lá, ao meu lado. Amanheceu... o Guilherme chegou com um envelope na mão, e disse a frase que eu jamais esqueceria em toda a minha vida: "Josi, quero que tu saiba que independente do resultado que estiver aqui dentro, eu estarei contigo". Eu não aguentava mais, gritei com ele, ABRE LOGO ISSO!
Positivo.
Josi, tu tá grávida.

Um redemoinho de sentimentos tomou conta de mim, quem deixou tu entrar aí? Quem te convidou? Eu chorei 48hrs. Na verdade eu chorava e gritava, pedia para minha irmã me levar pra tirar ele. Fiz um escândalo. Um escândalo mesmo. Estava incontrolável. Acho que eu queria mesmo era acabar logo com aquilo, por isso pedia pra minha irmã me levar em algum lugar onde eu pudesse "resolver". Ela tinha carro e podia me levar. Mas obviamente não o fez, e que bom. Disse para eu me acalmar e decidir com calma. Mas eu não conseguia me acalmar. Então passei o final de semana deitada, chorando. O tempo todo pensava na minha mãe. Passava um filme na minha cabeça, dos nossos momentos juntas, desde que eu era bem pequena, de todo aquele amor. Mas não tínhamos nada, como iríamos fazer? Eu não sabia como cuidar de mim, como cuidaria de outro ser? 
A decisão e o peso é sempre da mulher. Quer ter? Eu te apóio. Quem tirar? Eu te apóio também. 

2020: Pensando agora parecia que aquela não era eu. Parece que estou lembrando de algo que aconteceu com outra pessoa. Eu não posso julgar a atitude de uma jovem problemática que descobriu uma gravidez indesejada. Eu tinha medo, muito medo. Eu não tinha nada. 
Eu sinto vergonha, muita vergonha de lembrar disso. Não me orgulho nem um pouco. E sigo tentando me perdoar e entender que tudo é aprendizado.
Jovem Josi, eu te acolho, te abraço e te conforto, tu conseguiu. Teu filho hoje é teu melhor amigo e teu amor. Não te culpo pela forma como agiu, não te culpo pelos impulsos e pensamentos. 

Ainda sem me decidir eu vi aquele pontinho, aquele saco gestacional ainda sem batimentos e tudo mudou, me tornei uma leoa. A partir daquele momento eu já sabia o que fazer. Se a ideia de tê-lo era difícil, a ideia de tirarem ele de mim era insuportável. Comecei a me sentir especia naquele momento. Brilhante, iluminada.  

Algumas coisas aconteceram para corroborar minha então decisão já tomada. Nos sentamos em uns bancos, em frente de casa. Minha melhor amiga me disse que conseguia me ver mãe, que achava que seria uma coisa boa. Uma vizinha que eu não conhecia ouviu nossa conversa e se juntou a nós, nos banquinhos da praça do condomínio, onde o Bandike estava deitado na grama, ela me disse coisas bonitas, amorosas sobre ter um filho (detalhe que ela não tinha filhos). Minha irmã viu que as coisas estavam se acalmando. Por fim, meu companheiro chegou e disse com um baita sorriso "eu vou contar pra minha mãe". Eu sabia que depois que a grande vó Silvia soubesse não teria como voltar atrás, haha. Que bom. Ela chorava no telefone e dizia "agora vcs vão criar". Momentos incertos, mas felizes. 


Eu sabia que meu pai estaria bêbado demais pra me xingar. Minha irmã o chamou e disse "a Josiani quer te falar uma coisa". Ele saiu do quarto com aquela postura que ele assumiu, magro, despenteado, pequeno, fraco. "Pai, to grávida"
"Que amor minha filha"
Nos abraçamos e choramos, os três.


Passei aquele ano em casa, apenas gestando. Conhecendo, lendo, sentindo cada mudança, cada movimento. Fazia comida para as pessoas da casa. Fazia faxina. Todo mundo passava o dia fora e eu ficava sozinha.
Aquele ano teve copa do mundo e a reprise da novela "A viagem". Bandike, Kaká (minha gata) e eu assistimos. Meus companheiros, não me deixaram sozinha, me fizeram companhia durante toda a gestação. 

Ano novo 2005 para 2006, Carol, eu e a Babi, bebendo todas (eu já estava grávida).

A noite em que dormimos na sala, um dia antes do resultado do exame.

Meu aniversário de 20 anos, grávida de dois meses.

Meu companheiro de copa do mundo, devidamente uniformizado.

Minha gata Kaká do jeito que passou minha gestação inteira, em cima de mim.

Grávida de seis meses.

Experimentando uma calça que eu ganhei pro bebê (que era enorme, no Bandike).

Reta final da gravidez, oito meses.







quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A História de Bandike - Parte 2

     Desci do primeiro ônibus, estava com muita dor de garganta mas mesmo assim acendi um cigarro, hábito adolescente do qual eu achava que era viciada. Entrei no segundo ônibus, coração disparado, mãos suando, eu estava muito nervosa. Cheguei à feira de filhotes e vi o moço cara de garçom cabeleireiro:
- Moço, ainda tem os filhotes de pug?
- Todos vendidos, menos um, esse machinho.
     Ergui ele na altura dos meus olhos.
- Vou querer!
    Eu suava feito louca, enquanto o moço cara de garçom cabeleireiro ia chamar a tia dona do canil. Mil coisas passavam pela minha cabeça "meu deus eles não vão aceitar os cheques, alguém lá de casa vai chegar aqui agora, não vai dar certo". Preenchi os cheques e dei eles a tia dona do canil. PRONTO ele era agora era meu!
 - Ah mas espere menina ele só come esta ração, você pode comprar aqui comigo.
 - (p*%# não vou ter dinheiro pra comprar a ração) tá, tá vamos lá comprar!
Comprei o menor pacote possível e demos adeus ao moço cara de garçom cabeleireiro.
     Sobrou 30 reais no meu bolso e com eles entrei em um táxi e disse "Cavalhada, mas assim que der 30 reais o senhor para porque eu só tenho isso", ele desligou o taxímetro e me levou até em casa. 
Agora não tinha mais volta, eu sabia que meu pai estaria bêbado demais pra me xingar, mas tinha um outro detalhe... Esse detalhe saiu do quarto de salto alto em disparada sem ver e tropeçando no pequeno filhote, que saiu rolando da porta do quarto até o meio da sala.
- Josiani! O QUE É ISSO?!?!
   Acho que minha irmã só faltou sentar e chorar, mas logo ela ficou feliz com aquela bolinha enrugada em casa. 

       O nome dele na certidão era Spike, por causa do filme e aliás a frase "olha, é o cachorro do Mib" foi uma das que mais ouvimos na vida. Desde pequena eu tenho mania de achar que um certo animal combina com alguma letra ou alguma sílaba específica, é assim que escolho os nomes. Olhei pra ele e na hora pensei em B, alguns pensamentos depois surgiu: BANDIKE, não como o Bandit do desenho, mas com o som do K junto com o B. Aquela primeira noite ele chorou muito, sentindo falta da mãe e dos irmãos, ainda estava com o colarzinho de pérolas douradas no pescoço, coloquei ele na cama comigo, abracei de conchinha e dormimos. 
     
      Certo dia acordei e não achei ele em casa, procurei pela casa inteira, entrei em pânico. Percebi que tinha uma moça limpando a casa, meu pai as vezes pagava umas mulheres para fazer limpeza e almoço, mas nenhuma durava lá em casa. Ela me disse que meu pai tinha levado o cachorro pro bar. Eu voei na gaveta, pequei o número e liguei pro bar de nome "Garrafão". Pedi pra falar com o meu pai:
- CADÊ O MEU CACHORRO?
- Fui eu que paguei.
- NÃO INTERESSA, TRAZ ELE AGORA!!!
     Acho que meu pai ficou com medo de mim, não sei, só sei que em poucos minutos eles chegaram. Senti um alívio imenso. Acho que foi o primeiro amor maternal que senti na vida. Eu amava aquele filhote.
     
     Eu estava gripada e dormia com ele, logo percebi ele espirrando também, fiquei preocupada, liguei pra tia dona do canil:
- tu passou gripe pra ele, agora ele vai ter que fazer nebulização, vou passar pra pega-lo e te devolvo em dois dias.
     Era uma sexta feira quando ela passou lá em casa e levou meu filhote. Segunda feira e nada... Terça, quarta, quinta... Liguei de novo, por favor traga meu cachorro de volta! Era a primeira vez que eu sentia esse sentimento, um aperto dentro do peito, uma preocupação com um ser do qual eu era responsável. Quando ele finalmente chegou, depois de mais alguns dias, me questionei se seria de fato o Bandike, mas graças a uma marca de nascença que ele tinha na barriguinha, um pequeno espaço sem pêlos, pude confirmar.
     Sinto muita vergonha dessa parte da história, e gostaria que não tivesse acontecido. Certa vez meu pai levou uma coelhinha pra casa, minha irmã, mais uma vez quase sentou e chorou, na verdade ela deve ter feito isso de fato. Normalmente, meu pai levava os coelhos já mortos e colocava direto no frezzer, essa não, era branquinha e fofinha, colocamos seu nome de Raíssa. Com frequência eu passava a noite fora de casa porque a minha casa era longe e era muito difícil voltar pra casa de madrugada. Daquela vez não havia sido diferente, nós havíamos tocado em um show e chegamos em casa já pela manhã. Eu fui estúpida de achar que um filhote de cachorro poderia ficar junto com um coelhinho sem que nada acontecesse. Por certo ele quis brincar com ela e acabou matando-a. Eu fiquei com muita raiva e como ainda estava bêbada, dei um chute muito forte no Bandike, mesmo aquela culpa sendo minha. Enquanto eu chorava e meu namorado corria atrás de mim, meu amigo consolava o bandike que corria e chorava também, aquela cena foi horrível e só de escrever já fico muito, muito chateada. Essa foi a primeira e última vez que eu bati no meu cachorro, e NUNCA, nunca mais machuquei ele de forma alguma. Arrependo-me até hoje e se serviu para alguma coisa foi para que eu nunca mais batesse em nenhum animal, no mínimo pro resto da minha vida. Imatura, instável, incapaz, cheia de defeitos.

     Minha irmã levava o Bandike dentro do porta malas do Ká para tomar as vacinas, certa vez paramos na rua larga, próximo a Dea Coufal (que minha irmã adora) para ela me ensinar a dirigir. Era a primeira vez que eu pegava um carro, minha irmã estava no banco da carona e o Bandike nos seus pés. A ideia era que eu aprendesse a arrancar o carro mas as coisas saíram de controle e eu acabei em pleno trânsito com carros na frente, dos lados e atrás de mim. Com muita calma minha irmã, que estava apavorada, conseguiu me conduzir até o meio fio e eu estacionei o carro com todos os ocupantes sãos e salvos. 

    O Bandike começou a perder os pêlos do lombo, nas costas. O couro preto apareceu sobre as costelas e ele se coçava muito, e nós também:
- Ele deve estar com alguma alergia muito rara.
- Deve ser de pulga ou de algum produto.
- Vamos ter que voltar no veterinário.
O veterinário charmosão de meia idade, que deu bola para a minha irmã, não demorou para nos dar o diagnóstico:
- O cachorro está com sarna e vocês duas também.
    
     Saímos do veterinário direto para farmácia, com receitas de comprimidos e pomadas, pra nós três, a única diferença do tratamento era os banhos com um sabonete especial, que só o Bandike iria fazer. Sim, eu comprei um pug com predrigree por 1.500 reais que veio do canil com sarna. E sim eu já tive sarna.

     Na medida do possível as coisas iam dando certo, eu estava conseguindo dar conta daquele ser, ele era muito amado e bem cuidado, se dava bem com a minha gata e com todo mundo da casa. Aquele teste de responsabilidade estava dando certo, olhem só eu tinha um cachorro só meu. Aquele "filho" estava sendo bem criado e eu, pronta pra colocar a cabeça no lugar e refazer minha vida. Eu sonhava em ser veterinária, talvez fosse a hora de voltar a estudar, minha avó não voltaria mais e eu teria que arrumar motivações e ser responsável por conta própria. Pois bem, depois que passamos, Bandike e eu, uma noite agitada, dormindo na sala por causa do calor, o meu namorado chegou com a comprovação daquilo que estávamos duvidando.
- Quero que tu saibas que apesar do resultado vou estar do teu lado e...
- ABRE LOGOOO
- Josi, tu tá grávida!




Arrasando na webcan.

Par de vaso.

Bandike com sarna.

Banhos medicinais.




terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A História de Bandike


Parte 1

  Indiana, 1991. Shannon Hoon era louco por pugs. Esses cachorros com olhos enormes o encantavam, mas custavam tão caro. Seria difícil ter um... A menos que ele tivesse uma idéia... E então com seu amigo esperando ao lado de fora de uma pet shop com o carro ligado, Shannon surgiu correndo com o pequeno filhote nas mãos. Seu nome era Wooh. 
Mas o que isso tem a ver?
Ok. Volta, volta. 2005, Cavalhada, Porto Alegre.
     Os dias eram todos iguais, no computador jogando The Sims. Levanta, vai ao banheiro, volta, abre o msn, troca de música, vai demorar muito para o final de semana? Abre a geladeira, pega a guitarra e vai ensaiar. Dorme na casa da amiga, volta três dias depois, senta na frente do computador... Desde que ela partiu a vida não tinha muito sentido, nem muito motivo, eu não tinha mais ninguém a quem dar satisfação, minha vó era a única pessoa a quem eu fingia ter planos. A verdade era que eu nem sabia quem eu era. Estávamos naquela fase em que meu pai aparecia, dava seu ar, bebia umas 6 latinhas, fazia um miojo, dormia a tarde e saía sem deixar rastros ou melhor deixando muitos rastros de sujeira pela casa. Nenhuma de nós sabia se ele iria voltar. Com a morte da minha vó, minha irmã voltou a morar em casa. Havia alguns momentos bons. As vezes estávamos vendo tv na sala como as outras famílias e de repente ouvíamos o barulho inconfundível do motor dos carros da Chevrolet chegando na calçada, corríamos para o quarto e trancávamos a porta. 
 - Não era ele!
 - Vamos voltar então, depois da novela tem aquele programa hoje.
    Minha vó havia morrido em abril, após alguns meses no hospital, e eu estava me acostumando. Passei muitos desses dias com ela, ia visita-lá praticamente todos os dias. A partir do momento que ela se foi eu senti que nunca mais teria aquele cuidado, aquele conforto, aquela força e todas aquelas coisas maravilhosas que eu sentia quando estávamos juntas. Pela primeira vez na vida eu me sentia sem chão, sem gravidade. Se por acaso eu decidisse que ia morar no japão, eu poderia, não teria ninguém a quem pedir permissão, eu não teria que dizer como iria, como sobreviveria, eu não devia satisfação nenhuma a ninguém, eu tinha 18 anos.
    O colégio havia ficado parado há dois anos, eu havia acabado de terminar com o meu então namorado, na verdade estávamos dando um tempo. Eu tinha a minha banda e uma gata branca, a Kaká. Minha irmã estava estudando dia e noite para um concurso público, para nos tirar daquela vida e meu pai estava perambulando pra lá e pra cá havia anos.
Quando eu era criança minha vó costumava me levar em feiras de filhotes de cachorros, nós nunca compramos nenhum, eu gostava era de ver aqueles lindos filhotes. É claro que já existia abandono de animais, mas eram outros tempos, as feiras eram frequentes e acho que inofensivas, moralmente falando, e é claro, não para os peixes que eram dados como brinde em sacos plásticos fechados. Eu fiquei sabendo daquela feira de filhotes no Shopping e acho que por saudade ou para tentar voltar no tempo quis fazer como antigamente e fingir que minha avó ainda estava ali.
      Nos anos 90 havia uma banda de rock que lançou um single que havia me deixado com flash back do quarto da minha prima, o aparelho de telefone transparente, com todos aqueles fios amostra, aquela televisão pequena com o logo da MTV no canto inferior direito da tela e de uns carinhas cabeludos acompanhados de uma menina estranha vestida de abelha!
O Cd importado que custou muito caro para minha prima, só depois que minha vó deu alguns trocados a ela, passou a ser definitivamente meu. Alguma coisa naquela banda fazia eu me sentir no passado, um passado acolhedor e seguro. Naquele ano conturbado eu precisava me agarrar em algo, eu precisava pertencer a alguém. Amigos cibernéticos, troca de cd, tira uma música no violão, faz uma tatuagem igual ao do vocalista? não eu não fiz... Encontra um site estranho chamado Youtube, e finalmente lê que o vocalista da banda roubou um pug. Logo...
 -  Eu amo esses cachorros, não sei porque adoro essa raça, sempre gostei!
     Acho que pratiquei o famoso comportamento espelhado, como se gostar de algo de que eles gostassem  me fizesse membro do grupo.
     O scaler era uma bar onde todos os roqueiros dos anos 2000, e órfãos de movimentos, iam aos domingos, lá víamos os new metals com meias puxadas e dreads nos cabelos, os metaleiros cruéis de preto, os punks, os góticos maquiados com lápis de olho, os grunges de flanela e nós, os hiatos. UM cara que se vestia com camisas floreadas completamente reluzente em meio àquela penumbra, talvez ele sentisse algo parecido com o que eu sentia, ele se vestia assim para ter algo em comum com a banda que só ele gostava, os Pixies. E eu, naquela fase, com tocas de croche e roupas meio hippie.
      Fomos ao shopping, eu, o guri meu então namorado (que na verdade estávamos dando um tempo), a minha amiga Ana e seu namorado vegano. O cara vegano não pôde acreditar que estávamos indo dar dinheiro àqueles exploradores de animais, ficou na porta de fora do shopping com a namorada. Pagamos 20 reais para entrar. Depois de algumas fofuras resistíveis, ao lado esquerdo no fundo do corredor, estava aquela mamãe pug, com seus quatro filhotes. A insanidade do momento e a falta de responsabilidade me fizeram perguntar o preço:
 - Ounnn, quanto é cada filhote?
 -  1500 reais o macho e 1750 a fêmea, todos possuem pedrigree com árvore genealógica, atestado de pais e avós, coleiras anti-pulgas, coco já sai com bom ar e gostam de beatles, disse o cara com roupa de garçom e jeito de cabeleireiro das estrelas.
 -  ah ta, só to dando uma olhadinha.
    Desde então meus olhos se arregalaram como os daquela mamãe pug e eu só pensava em comprar aquele cachorro. Eu e o Shannon teríamos algo em comum, seríamos praticamente da mesma família, pensava minha imatura cabeça.
 - Eu ganho 250 por mês, em seis meses eu consigo. Mas não tenho todo esse tempo, precisava do dinheiro agora.... (pensa, pensa, pensa) PAI?!
    Eu ganhava pensão da minha mãe, não sei exatamente o valor, mas sei que 250 vinha pra mim e o resto ficava com a minha irmã. Comprava cigarros e xis pra todos meus amigos e de vez em quando passava na Renner.
 - Pai, tu me empresta uns cheques pra eu comprar um pedal de guitarra? Eu te pago em seis meses, juro!
 -  Ai minha filha, tô bêbado
 -  Tem que ser 4 cheques, pra eu poder parcelar (disse rápido com voz engasgada de nervoso)
Então um homem bêbado largou quatro cheques em branco assinados na mão de uma adolescente.
 -  Eu não tenho ninguém, nada me prende, quero testar minha responsabilidade, será que consigo cuidar de alguém? Esse cachorro vai ser o meu filho!

Resultado de imagem para shannon hoon pug
Vocalista do Blind Melon, Shannon Hoon e Wooh)

Imagem do clipe da música "No Rain" que mudou a minha vida e a do Bandike.